A razão exata pela qual dormimos sempre foi um dos maiores mistérios da ciência moderna. Muitas teorias diferentes foram propostas, mas o fato é que ninguém sabe ao certo por que passamos cerca de um terço de nossas vidas dormindo.
Muitas pesquisas mostram como o sono ajuda a consolidar as memórias e a reparar o corpo, mas muitos cientistas acreditam que essas ações não explicam totalmente o propósito subjacente do sono, particularmente do ponto de vista evolucionário. Passar tanto tempo de nossas vidas dormindo e vulneráveis nos expõe a um grande perigo, de modo que muitos especialistas acreditam que deve haver uma razão mais convincente para dormirmos.
Uma das principais teorias do sono sugere que o sono é necessário para permitir que o cérebro se limpe e reinicie das atividades do dia anterior. A pesquisa em ratos apóia essa teoria.
Um estudo publicado em uma edição de 2013 da revista Ciência revelou que o sono dá ao cérebro a chance de se limpar. O próprio estudo envolveu a análise do fluxo de fluidos no cérebro de ratos em estado de vigília e sono.
Os pesquisadores se concentraram principalmente em como os fluidos fluem dentro do sistema linfático ou nos espaços entre os neurônios. Isso é algo como um sistema de eliminação de resíduos, limpando os produtos residuais que as células cerebrais geram ao realizar tarefas normais.
Aumento do fluxo de fluido em cérebros adormecidos
No entanto, transportar esses materiais residuais requer uma grande quantidade de energia, e os pesquisadores levantaram a hipótese de que o cérebro não seria capaz de suportar essas funções de limpeza e processar informações sensoriais ao mesmo tempo. Para testar essa ideia, a principal autora do estudo, Lulu Xie, passou dois anos treinando ratos para adormecerem em um tipo de microscópio que permitiria aos pesquisadores observar o corante se movendo através de tecidos vivos.
Depois que a atividade do EEG confirmou que os ratos estavam realmente dormindo, um corante verde foi injetado em seu líquido cefalorraquidiano. Meia hora depois, os camundongos foram acordados e um corante vermelho foi injetado. Por meio desse processo, os pesquisadores puderam observar os movimentos da tinta verde e vermelha no cérebro. O que eles observaram foi que, enquanto grandes quantidades de líquido cefalorraquidiano fluíam pelo cérebro durante o sono, o mínimo movimento era observado durante a vigília.
Os espaços entre as células cerebrais aumentam durante o sono
Então, por que havia um fluxo de fluido tão grande durante os estados de sono, em oposição aos estados de vigília? Os pesquisadores também observaram que os espaços intersticiais entre as células cerebrais se tornaram muito maiores durante o sono, permitindo que o fluido flua mais livremente. Esses canais aumentaram cerca de 60% durante o sono.
Os pesquisadores também descobriram que quando certas proteínas foram injetadas nos ratos, as proteínas foram eliminadas muito mais rapidamente durante o sono.
Possíveis implicações
“Essas descobertas têm implicações significativas para o tratamento de doenças do 'cérebro sujo', como o mal de Alzheimer”, disse Maiken Nedergaard, um dos autores do estudo. “Entender precisamente como e quando o cérebro ativa o sistema glifático e limpa os resíduos é um primeiro passo crítico nos esforços para modular potencialmente este sistema e fazê-lo funcionar de forma mais eficiente.”
Os cientistas sabem há muito tempo que certas condições neurológicas, como demência, Alzheimer e derrame, estão todas associadas a distúrbios do sono. De acordo com Nedergaard, esses resultados podem sugerir que a falta de sono pode desempenhar um papel causal em tais condições.
Agora que os pesquisadores identificaram esse processo de limpeza do cérebro, a esperança é que ele leve a novas pesquisas sobre como o processo funciona e o possível papel que pode desempenhar em condições neurológicas, como a doença de Alzheimer.
O estudo também ressalta mais uma vez a importância do sono. "Isso poderia abrir muito debate para os trabalhadores por turnos, que trabalham durante a noite", disse Nedergaard Ciência. "Você provavelmente desenvolverá danos se não dormir."